A arte de (re)começar a vida no meio do caminho

Gui Melo
4 min readJun 12, 2021

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É meio bizarro que Adão já começou a Ser sendo um adulto, não é? Quando eu descrevo quem eu sou, geralmente, eu me baseio num conjunto de ideias, sentimentos e experiências. Adão não tinha nenhuma!

Ainda assim, Adão é uma boa meta para ser. Ser algo além dos pensamentos, crenças, experiências, emoções, alguém além dos cinco sentidos e características físicas. Um “Eu” que encontro no meio da meditação.

O problema é que nós não chegamos “aqui” já na vida adulta, nós começamos do zero, e vamos acumulando coisas ao longo da vida, essas coisas vão nos definindo e simplesmente aceitamos esta definição.

Quem são as pessoas e circunstâncias que te definem?

Será que você sabe quem você realmente é, ou você só aceitou definições externas, as repetiu esse tempo todo, e ficou por isso mesmo?

Cena do file “O menino do pijama listrado” mostrando um garotinho judeu com veste de prisioneiro e um pequeno alemão separados por uma cerca de arame farpado
“Nós dois não podemos ser amigos. Nós temos que ser inimigos. Sabia disso?”

Quando bate a bad

Às vezes, eu ficava meio pra baixo sem motivo aparente, do nada, eu estava triste. Era uma pequena bola de neve, que crescia sem parar. Até então, era algo normal pra mim. Quem nunca?

Com a prática da meditação constante, com o atentar-se ao que acontece na minha mente, eu percebi os pequenos motivos que causavam essa tristeza. Eram os mesmos motivos que me faziam duvidar de mim, das minhas qualidades, dos meus dons: as referências externas.

Eu não percebia o raciocínio “lógico” que acontecia na minha cabeça: ninguém curtiu, logo, não é um post bom. Ninguém elogia, logo, eu não sou bom. Tal pessoa não gostou, logo, não presta. Passou x tempo e não recebi nenhuma mensagem, logo, ninguém quer minha companhia. E por aí ia…

De tanto que minha cabeça repetia essa “lógica”, eu acabava adotando cada definição como verdade. Não é de se espantar que, depois de um tempo, acabei duvidando de mim mesmo.

E tem mais: nas entrelinhas disso tudo, estão as expectativas. Eu fazia algo meio que esperando determinado resultado; se ele não acontecesse, eu ficava frustrado e repetia/confirmava as definições.

Cheguei no meu limite! Foda-se!

Quando cheguei no meu limite, alguns anos atrás, eu liguei o foda-se, e passei a não me importar com resultados. Por um lado era bom, eu não criava expectativas e não me frustrava, mas por outro… a vida era um tanto faz. Não era legal viver, era… tanto faz!

Apesar da péssima fama que geminianos têm, eu não costumo pular de galho em galho, e, felizmente, nunca deixei de meditar e buscar respostas dentro de mim. Alguns livros e músicas me ajudaram a colocar a casa em ordem, mas foi só convivendo comigo, no meu interior, que eu encontrei um caminho.

Sair do modo automático é fundamental para se libertar. Parar e pensar, analisar, questionar, perturbar o status quo. (acredite ou não, quem me ensinou isso foi o Coringa do mais-que-genial Heath Ledger!)

Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. Sabe qual é o barato do caos? Ele é justo!

O meu bolo de pote é ruim, ou as pessoas ainda não o conhecem (por isso não estou vendendo bem)?
Aquela pessoa não me respondeu ainda porque não tá nem aí pra mim, ou ela só está ocupada?
Nada na minha vida dá certo, ou eu desisto sem dar chance ao tempo?
Eu sou burro demais pra faculdade, ou a escola não soube ensinar direito?

Um dos melhores livros da minha vida

As coisas mudaram drasticamente quando conheci a ideia de “vairagya” da filosofia hindu! Mais do que “desapego”, é a ideia de aceitar as coisas como elas são. Ou seja, muito mais do que “foda-se tudo”, é “eu posso aceitar isso”. E se eu posso aceitar isso, eu posso me aceitar.

É abrir mão do controle e se entregar ao fluir da vida.

O que vier, eu posso aceitar.

Quase ironicamente, quando atingi esse estado de espírito, tudo começou a dar certo.

Como encontrei minha essência com uma cebola

Aos poucos, eu comecei a me ver como uma cebola, sabe? Quanto menos eu me apegava às definições do externo, fossem números ou opiniões dos outros, mais eu me aproximava da minha essência.

Um lugar dentro de mim além das definições e limitações do corpo físico, além das coisas mundanas (por assim dizer). Um pontinho de luz que não é descritível, não é mecânico, é apenas sentido, vibrado, vivido.

Habitar nesse lugar é, paradoxalmente, ser o mais “eu” possível, e ser o todo ao mesmo tempo. É como se não houvesse limitações nem barreiras, tudo fosse uma coisa só, tudo é possível…

Eu não me dou bem com religiões porque elas querem levar o homem para o céu, e eu prefiro trazer Deus para a terra. Como Adão, sem definições, sem acúmulos, apenas Sendo.

A arte de recomeçar

Me livrar das cascas-de-cebola e passar a rejeitar definições pobres e enganosas a meu respeito foi como resetar a vida. (Re)começar sendo quem eu realmente sou, seguindo a minha natureza, acreditando no meu potencial e valorizando quem eu sou, mudou completamente o jogo!

Parar.
Questionar.
Meditar.
Aceitar.

Você não é seus pensamentos, nem é o que os outros dizem que você é, você não é o que os outros querem que você seja. Se reinvente quantas vezes quiser e precisar! As cascas são mutáveis, são roupas que a essência veste. Você não é obrigado a vestir o que não te serve mais, nem o que não te agrada!

Transforme-se.
Descubra-se.
Conheça-te.
Vá para ti.
Ame-se.

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Written by Gui Melo

Um introvertido compartilhando as lições que não ensinaram na escola, mas que são essenciais para conviver em paz com a própria cabeça 💛

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