Depois que meditação virou um prazer

Quais técnicas mais ajudaram a acalmar minha mente inquieta

Gui Melo
5 min readJun 4, 2021

Existe uma simpatia que coloca um passarinho pra piar na boca da criança pra ela falar… Eu acho que colocaram um passarinho na minha cabeça! É uma falação tão bagunçada o tempo todo, que até pra dormir é difícil. Ou melhor, era.

Eu achava muito xique-bacanizado quem sentava pra meditar e passava mais de 10 minutos ali, quietinho. Meu, como ela consegue? Eu não consigo! Não adianta! Quando eu sento e fecho os olhos, parece que estou tentando dormir numa arquibancada na final do campeonato.

A essa altura, eu já perdi as contas de há quantos anos eu pratico meditação. O que sei é que, hoje, depois de muitos livros, palestras e (muuuitas) tentativas, meditar é um hábito, tão necessário e tão gostoso quanto comer. E eis aqui as que mais me ajudaram a conviver o tal passarinho.

Trânsito carregado

Prática 24/7

Esse é o passo mais importante de todo o processo e sem o qual não foi possível seguir em frente. Eu não vou me aprofundar muito nele porque já escrevi sobre (quem quiser ler: Meditação não vai te ajudar a concentrar melhor).

Mas é tão importante que vale a pena relembrar: a gente é bom naquilo que pratica.

Se pratico agitação e multitarefa o dia inteiro, todos os dias, eu não vou conseguir algo diferente quando meditar. Minha mente vai estar tão acostumada a fazer mil coisas ao mesmo tempo, que vai procurar outras coisas enquanto eu estiver sentado meditando (ou tentando meditar).

Menos é mais! Menos coisas, menos tenho-que, menos, menos, menos.

Corpo + mente

Pode parecer bobagem, mas corrigir a postura corporal é, em si, um treino de atenção constante. Além disso, alinhar o corpo com a mente é uma combinação poderosa. Os especialistas falam isso o tempo todo, ainda mais com o home-office em alta.

✓ Cabeça erguida
✓ Coluna ereta
✓ Peito aberto (ombros para trás e relaxados)

Pra quê?

Foi e é sempre muito importante ter bem claro um objetivo na meditação. Não tem exatamente um certo-e-errado nessa questão, mas é preciso saber o motivo de estar meditando. Pra quê? Qual é o objetivo?

Importante: a meditação não é o objetivo, é uma consequência (de uma prática constante e diária). Dentro desta consequência, quais são os seus objetivos?

Eu gosto muito de uma definição que li num livro (e peço desculpas por não saber qual deles):

Orar é pedir ajuda. Meditar é ouvir a resposta.

Eu sento, me visto com a energia que quero vibrar e me acostumo com ela. Procuro ensinar meu corpo a vibrar naquela vibe. É como adestrar um cão.

Por exemplo: se quero ser valorizado, eu conduzo minha atenção para a sensação de ser valorizado, e mantenho essa energia dentro de mim.

Assistindo a vida na beira da estrada

Já faz tempo que eu falo isso, e vou continuar repetindo: meditar é como sentar-se à beira de uma estrada e assistir o ir e vir do trânsito. Os pensamentos são os carros, e não há a menor necessidade de controlar nem de subir em algum deles. Sou espectador, não controlador.

No começo, eu achava que meditar era não ter nenhum carro na estrada. E o problema era justamente esse, era a minha maior dificuldade, (porque) sempre tem carros!

Com a prática do menos-é-mais (citada no outro texto), o número de carros diminuiu drasticamente, e facilitou tanto a prática da meditação que eu passei a entrar no fluxo até estando de olhos abertos e em pé.

Eu não preciso de silêncio para meditar -quem disse que preciso?-, eu posso abraçar os barulhos ao meu redor, e meditar apesar deles. Não é mais condicional. Não estou preso às circunstâncias exteriores e terceiros.

Com carro ou sem carro, com barulho ou sem barulho, o assistir é o mesmo.

Escondido nas escrituras sagradas

Sim, é mais fácil meditar quando tudo está quieto (ao redor e também dentro de nós), mas com o tempo, acabei descobrindo que eu não sou o trânsito, nem sou o espectador na beira da estrada. Se eu posso perceber o espectador, eu sou algo além.

Quem viu Kung fu panda sabe que o segredo é que não há segredo. Não porque o pergaminho em branco é um “nada”, mas porque o pergaminho em branco pode ser tudo! Ele tem todas as possibilidades, pode ser qualquer coisa!

Isso me lembra de três coisas interessantes na Bíblia:

Lech Lechá

Quando Deus convida Abrão, o termo usado no texto original é “lech lechá”, que significa “vai para ti mesmo”. “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai” quer dizer “sai das definições que você mesmo, teus pais e a sociedade colocam em ti”, saia das limitações. Vá além!

Ir além dessa superficialidade, da identidade, do palpável. Além dos carros e do espectador, além dos pensamentos e das ideias que temos sobre nós mesmos. Essas coisas são mutáveis, a nossa essência não.

Desapego

Jesus e seus discípulos falavam constantemente sobre se desfazer de coisas materiais, sobre não ter nada, etc. Falavam também sobre deixar de ser quem é, e tal. Muito mais do que uma renúncia ou um voto de pobreza, era uma maneira de dizer “menos é mais”, “lech lechá”, “esvazie-se, perca a forma”.

Tenha menos coisas, menos sapatos, menos roupas, menos bonés, menos contas em redes sociais, menos atividades e obrigações sociais… dedique sua energia vital com o que realmente importa.

Quais são as coisas que te aproximam da sua essência?

Seja menos os padrões e definições que você, sua família e a sociedade impuseram sobre você, e seja mais a sua essência. Deixa a essência crescer, a parte eterna e imutável do seu ser.

Gênesis

Por fim, uma coisa que passou despercebido por mim até esses dias: “no início, a terra era vazia e sem forma”.

Quando a gente nasce, somos vazios e sem forma (na mente). Com o passar dos anos, vamos acumulando ideias, momentos, sentimentos e coisas, e nos conformamos com elas. Conformar significa “dar forma”.

A pergunta é:

se você pudesse se teletransportar para algum lugar qualquer, qual seriam as coisas necessárias para te recriar?

Seu corpo? Suas roupas? Suas ideias? Suas emoções?

Quem é você? Qual é a coisa sem a qual você não é você?

Por que está aqui?

O que você quer/busca é o que você realmente quer, ou é o que as pessoas querem que você queira/busque?

Você tem vivido pela sua essência ou pelas coisas externas?

Respostas que só podem ser encontradas por você. Não em um texto, nem num livro, muito menos numa religião. A resposta está em você. E, talvez, a resposta seja você.

💛

Eu sou Gui Melo. Seu escritor favorito!

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Written by Gui Melo

Um introvertido compartilhando as lições que não ensinaram na escola, mas que são essenciais para conviver em paz com a própria cabeça 💛

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