A ilusão da autoaceitação
Não sei se algum dia você se permitiu questionar o que estamos fazendo aqui; Qual é o sentido da vida? Para quê tudo isso? Principalmente quando não se tem uma religião, são perguntas muito difíceis de responder. Eu mesmo já me torturei durante muitos anos com estas perguntas.
Encontrei a resposta? Não.
Mas parafraseando Clarice Lispector: já que estou vivo, o jeito é viver. Uma ideia que me fez simplesmente aceitar (a vida). E aproveitar ao máximo tudo o que está disponível para mim. Foi como voltar aos trilhos e curtir a viagem, em vez de ficar preocupado com origem e destino, comos e por quês.
Se puder, imagine que a vida é um trem, e que os vagões são suas fases.
Primeiros vagões
Nos primeiros vagões, a tendência é que você seja bem-vindo, com liberdade para ser quem você quer ser e com toda atenção do mundo para si. Sua mala ainda está vazia, e apesar de ter poucas opções disponíveis, você pode enchê-la com o quiser e as pessoas vão achar fofo.
Com o tempo, as estações passam e não é mais preciso ficar preso àquele vagão limitado, já é possível explorar coisas novas, criar uma bagagem divertida, personalizada, especial. Única!
Junto com a credencial para transitar sozinho de um lado para o outro, vem também algumas condições. Você já não pode mais falar o que vem à mente, suas expressões começam a ser censuradas e alguns protocolos sociais são exigidos de você. Mas você está tão interessado em conhecer o mundo que não liga de se vestir à caráter.
Em algum momento, você percebe que ficar em um vagão não é opcional. A cada estação, você é obrigado a ir para o próximo, e dar espaço para quem está vindo lá detrás.
Vagões do meio
Os vagões do meio são lotados. Sua mala não é bem-vinda. Na verdade ela incomoda. Não importa quão importante ela seja para você, ninguém dá a mínima. Se livre delas e siga o padrão.
Nestes vagões, você é só mais um.
Para ser aceito neles -e não estar ali não é exatamente uma opção-, você precisa seguir as regras. Vai precisar fazer algumas encenações, fazer o que não gosta, abrir mão de muita coisa…
Antes que essa viagem continue, eu quero puxar o freio de emergência e compartilhar uma coisa que eu demorei um bom tempo para entender:
A gente se desmonta tanto para ser aceito pela sociedade (de uma maneira geral), que a gente cria uma nova identidade, uma nova versão nossa. O mercado gosta de chamar isso de adaptação, é uma característica de um vencedor, mas deixar de ser você mesmo não é meio um… suicídio?
Amor próprio, a cilada
Neste momento, surgem os vendedores ambulantes. Alguns deles, em especial, vendem receitas para o amor-próprio, auto-aceitação, e coisas do tipo. Eu comprei todas as receitas que encontrei. E, sim, aprendi a me amar e me aceitar.
Só tem um problema: eu aceitei a versão errada.
É curioso porque só caiu minha ficha quando eu estava lendo o meu próprio livro — Carta de demissão do seu papel de trouxa. Quando eu o escrevi, nada disso passou pela minha cabeça, mas quando o li esses dias, BUM! uma janela se abriu dentro de mim.
Eu não amei e aceitei quem eu realmente sou, eu aprendi a amar e aceitar quem as pessoas querem que eu seja. Isso é tão estúpido quanto seria (se eu fosse um ator) amar e aceitar um personagem, em vez de me amar e me aceitar.
A vida que você está vivendo,
é a sua vida mesmo, escrita e dirigida por você,
ou é uma vida escrita pelos outros?
Dependendo da resposta e da sua vontade, às vezes, vale mais a pena descer na estação seguinte, voltar algumas estações, recuperar a sua mala, e aprender a viver com quem você realmente é, amando e aceitando quem você é, com seus dons, sonhos e imperfeições.
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