Já faz alguns anos que eu adotei o hábito de assistir, pelo menos uma vez por ano, a alguns filmes. São filmes com mensagens poderosas e impactantes, vê-los com esta frequência tem me mantido mais consciente, mais vivo.
Um deles é “A viagem de Chihiro”.
Cada ano que passa é um filme novo que eu assisto. Apesar de as cenas serem as mesmas, são experiências bem diferentes das anteriores, especialmente a da primeira vez que assisti, ainda no Japão, com meus 12 anos de idade.
Se você nunca assistiu, peço perdão, mas vai ter spoiler.
Não vou fazer um review do filme, nem analisar os simbolismo. Só quero compartilhar três lições que me ajudam a evoluir, amadurecer e crescer.
A sua identidade
Hoje em dia, os nomes são escolhidos por serem bonitos ou por agradarem os pais, mas, antigamente, a escolha do nome tinha um simbolismo maior. Na tradição bíblica, por exemplo, a palavra “nome” está contida na palavra “alma” (como se uma coisa não pudesse se desprender da outra).
O título original (em japonês) do filme é “Sen to Chihiro no Kamikakushi”: “Chihiro” é o nome de batismo da menina; “Sen” é o nome imposto pela bruxa; “Kamikakushi” é (literalmente) escondido por Kami (deus). Uma ideia relacionada à morte ou algo do tipo.
Eu entendo que quando uma está em cena, a outra morre, é escondida. Elas não podem coexistir no mesmo corpo ao mesmo tempo.
É o que acontece nessa cena: a Chihiro assina o contrato para trabalhar na termas, mas a bruxa não permite que ela mantenha esse nome. Então, parte dele é engolido pela mão da bruxa, restando apenas “Sen”, o novo nome da menina. É como se a bruxa se apossasse da alma dela.
Me parece que algo parecido acontece com muitos de nós, que deixa de seguir os sonhos, de viver as paixões e desenvolver os dons… para nos tornarmos pessoas aprovadas pela bruxa, pela sociedade.
Você tem sido Sen ou Chihiro?
O acúmulo dos anos
Um cliente fedido se aproxima do castelo para tomar banho. Os funcionários até tentam impedir que ele chegue, mas o bicho entra mesmo assim. Ele está tão sujo, tão cheio de barro, que mesmo quando entra no ofuro, debaixo de uma cascata, a sujeira não sai.
Chihiro descobre que, sob aquela lama toda, tem lixo acumulado. Eles amarram uma corda na ponta do lixo e começam a puxar. Depois de muito esforço coletivo, o verdadeiro cliente é liberto. Junto com o lixo, pedrinhas de ouro surgem.
Me faz pensar em quanto lixo nós temos acumulados dentro de nós. Quanta coisa desnecessária mantemos conosco.
Às vezes, em consulta de tarot ou astrologia, eles dizem para “liberar o passado”. Eu imaginava que era sobre uma pessoa ou empresa, mas na maioria das vezes, entendi que eram as crenças do passado, as definições e significados que repetimos na cabeça.
Eu não conseguia enxergar valor em mim, porque o ouro estava sendo escondido pelo lixo psicoemocional. Comecei a limpá-lo, e até como as pessoas me tratam melhorou!
Limpe sua casa. Limpe suas gavetas. Limpe seu guarda-roupa (livre-se de determinadas roupas). Limpe seu celular (galeria de fotos, conversas antigas, números desnecessários, etc.). Limpe seus e-mails, pastas… limpe tudo!
A limpeza exterior ajuda na limpeza interior. E a limpeza interior revela seus tesouros, seu verdadeiro valor.
Agora vá, e não olhe para trás
Depois de duas maravilhosas horas de história, a instrução final para a Chihiro é que ela deixe aquele lugar e não olhe para trás.
Não tem muito o que explicar ou filosofar sobre esta ideia. Não olhar para trás é não se afogar na esperança de que as coisas poderiam ter sido diferentes. É não ficar recordando dores e dificuldades. É não voltar as cenas e revive-las.
Às vezes, a gente vive a mesma história várias vezes porque não perdemos essa mania de olhar para trás, de acumular o lixo tudo de novo. Essa mania de perder nossa verdadeira identidade, para viver o papel que outros querem que vivamos.
💛
Eu sou Gui Melo. Seu escritor favorito!